04 outubro 2009

Crônica

Recebi por email e reproduzo aqui, porque acho que vem a calhar essa reflexão. Ando um pouco fragilizada por alguns problemas de saúde, por outras coisitas, mas a vida é assim mesmo. Nem sempre tudo são flores e saber conviver com as incertezas "faz parte". Espero que essa crônica ajude você, que está me lendo, a viver um pouco melhor.


Os quatro fantasmas

Martha Medeiros

Leiga, totalmente leiga em psicanálise, é o que sou. Mas interessada como se dela dependesse minha sobrevivência. Para saciar essa minha curiosidade, costumo ler alguns livros sobre o assunto, e outro dia, envolvida por um texto instigante, me deparei com as quatro principais questões que assombram nossas vidas e que determinam nossa sanidade mental. São elas:
1 - Sabemos que vamos morrer.
2 - Somos livres para viver como desejamos.
3 - Nossa solidão é intrínseca.
4 - A vida não tem sentido.
Basicamente, isso. Nossas maiores angústias de dificuldades advêm da maneira como lidamos com nossa finitude, com nossa liberdade, com nossa solidão e com a gratuidade da vida. Sábio é aquele que, diante dessas quatro verdades, não se desespera.
Realmente, não são questões fáceis. A consciência de que vamos morrer talvez seja a mais desestabilizadora, mas costumamos pensar nisso apenas quando há uma ameaça concreta: o diagnóstico de uma doença ou o avanço da idade.
As outras perturbações são mais corriqueiras. Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca a responsabilidade em nossas mãos.
A solidão assusta, mas sabemos que há como conviver com ela: basta que a gente dê conteúdo à nossa existência, que tenhamos uma vontade incessante de aprender, de saber, de se autoconhecer.
Quanto à gratuidade da vida, alguns resolvem com religião, outros com bom humor e humildade. O que estamos fazendo aqui? Estamos todos de passagem. Por tanto, não aborreça os outro e nem a sim próprio, trate de fazer o bem e de se divertir, que já é um grande projeto pessoal.
Volto a destacar: bom humor e humildade são essenciais para ficarmos em paz. Os arrogantes são os que menos conseguem conviver com a finitude, com a liberdade, com a solidão e com a falta de sentido da vida. Eles se julgam imortais, eles querem ditar as regras para os outros, eles recusam o silêncio e não vivem sem aplausos e holofotes, dos quais são patéticos dependentes. A arrogância e a falta de humor conduzem muita gente a um sofrimento que poderia ser bastante minimizado: bastaria que eles tivessem mais tolerância diante das incertezas.
Tudo é incerto, a começar pelo dia e a hora da nossa morte. Incerto é nosso destino, pois, por mais que façamos escolhas, elas só se mostrarão acertadas ou desastrosas lá adiante, na hora do balanço final. Incertos são nossos amores, e por isso é tão importante sentir-se bem mesmo estando só. Enfim, incerta á a vida e tudo que ela comporta. Somos aprendizes, somos novatos, mas beneficiários de uma dádiva: nascemos. Tivemos a chance de existir. De nos relacionar. De fazer tentativas. O sentido disso tudo? Fazer parte. Simplesmente fazer parte.

6 comentários:

  1. Êêêêê Marli...
    Abençoadas sejam as palavras, que nos ajudam a oferecer sentido ao caos dos nossos sentimentos, aliviando (às vezes) o peito oprimido...
    Ouvi por aí que estás em recuperação, te desejo muita saúde e calidez das pessoas que te cercam...
    Não é à toa que você é professora de literatura: as histórias do mundo, as viagens mais distintas das nossas, são território de inspiração para buscarmos energia para nossas próprias batalhas...
    Um grande abraço
    Lilian

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  2. Querida Lilian!
    Palavras são mágicas. Tens razão. Que diferença fazem na vida da gente, como essas tuas.E custam apenas a nossa dedicação, tempo, sensibilidade. Obrigada pelo carinho. Tudo vai ficar bem. Abraço!

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  3. Ah estes comentários que contam segredos :)

    Marli, melhoras e força para passar este tempo de insegurança.

    bjssss

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  4. Marli,
    Retornei após mais de dois meses fora do ar, o luto é um grande aprendizado. Estou aqui pelo incentivo que recebi do Franz que me deu um selinho que se chama "Blog Dorado", e não pude deixar de lembrar da paixão que você nos passa de "aprender" e bem cativa seus alunos, pela magia de sua linguagem que se transmuta em poesia nos meandros das pautas.
    Um abraço!
    Maria do Rocio

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  5. Marli,
    Não saberia viver sem liberdade e sempre tive a clareza de que somos sós.a religião me ajuda a crer na infinitude da alma.Quanto à morte, este mistério, me causaria sofrimento de pensar que os que amo possam partir antes de mim.
    Beijos

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  6. Queridas amigas, bom tê-las aqui. Maria do Rocio, andei meio fora do ar e não sabia do que ocorreu contigo. Força, amiga! Obrigada pelas tuas palavras de incentivo. Suzana, não há segredos aqui rsrsrs Há simplesmente um compartilhar ideias que nem sempre são só ideias, mas sentimentos. Não tenho certeza de que a angústia é passageira. Talvez ela venha da minha incapacidade de me acostumar com o que vejo por aí, de me adaptar a uma realidade que não me serve e que me faz ficar um tanto desencantada com as pessoas. Lembram da crônica de Marina Colassanti "A gente se acostuma, mas não devia..." A vida , o mundo é bonito, mas muitas pessoas estragam tudo e frequentemente a minha ingenuidade me trai. Sempre acho que todo mundo tem as melhores intenções, mas depois vejo que fui boba. É um tal de "jeitinho brasileiro" pra cá, malandragem pra lá, cada qual querendo levar mais vantagem. É um tal de julgar o outro com uma facilidade de espantar. Honestidade que é bom, pouca. E quem pode mais, chora menos. Como você diz, Fátima, somos sós. Nossas lutas acabam sendo solitárias. Quanto à morte, li uma frase do João Ubaldo Ribeiro "A gente começa a ficar mortal por volta dos 40 anos. Antes disso, a morte é uma coisa que acontece com os outros. Até que você começa a perder as referências familiares." Bem, desejo a todas o melhor. Quanto a mim estou levando devagar, devagarinho. Não quero me acostumar com nada que não me agrade, mas quem sabe dia desses eu acorde mais tolerante. Beijos!

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