04 maio 2014

Copa do Mundo e Cidadania

       

        A Copa do Mundo, para grande parte dos brasileiros, sempre foi aquele evento muito esperado, que merecia televisão nova, feriado obrigatório, milhares de pequenas torcidas organizadas e treinadores escalando o time ideal. Durante o jogo do Brasil, o que estava em jogo para os apaixonados era apenas a alegria ou a frustração do resultado final. Entretanto, a Copa do Mundo de 2014 no “País do Futebol”, que era para ser motivo de euforia, está gerando uma onda de protestos nas ruas, trazendo à tona a precariedade da saúde, educação, segurança dos brasileiros, em contraste com os altos investimentos do dinheiro público destinados ao evento . 
        Obviamente o maior espetáculo esportivo do mundo vai trazer visibilidade ao país e o empenho do governo está em passar uma boa imagem, a fim de atrair futuros investimentos estrangeiros e turistas. Para isso, investiu bilhões do dinheiro de impostos nas cidades sede dos jogos. A maior parte dos recursos foram aplicados na construção de estádios moderníssimos, o que provavelmente elevará o preço dos ingressos, elitizando o esporte do povo. Enquanto isso, doentes morrem nos corredores dos hospitais, crianças nascem nas calçadas em frente a maternidades, a violência prolifera, as escolas estão sucateadas e os professores não recebem o piso mínimo nacional previsto em lei, sob alegação de falta de recursos. 
         As obras seguem num ritmo acelerado, para atender às exigências da FIFA, enquanto o povo aguarda há anos por alguns direitos constitucionais, entre eles a segurança. No caso das favelas do Rio de Janeiro, o narcotráfico tomou conta por muito tempo. Mas somente agora, com a perspectiva da Copa do Mundo, uma operação de guerra foi montada para a pacificação. Seria inconveniente receber turistas onde está instalado o crime organizado. 
        Para não dizer que não se falou de flores, o governo, a dois meses do início do campeonato, convida a população a um “diálogo social sobre a realização do evento”, através de debates na internet . Qual seria a validade da opinião popular, se os recursos públicos já foram gastos e praticamente tudo está definido? Tudo leva a crer que a iniciativa é uma forma de aparentar um espírito democrático e conter manifestações e protestos durante os jogos. No entanto, o povo sente na pele que foi colocado em segundo plano.
    Certamente, Copa do Mundo é um evento dos melhores, que promove a integração das culturas, aproxima os povos, fortalece a tolerância com as diferenças. Mas será que para sua realização é necessário uma estrutura milionária e de aparências em detrimento das necessidades prioritárias das pessoas? Talvez o maior legado que a Copa vai deixar no Brasil seja o despertar do sentimento de cidadania em cada brasileiro, que clama por dignidade, acima da paixão que ainda tem pelo futebol.

Produzi esse texto na Oficina de Escrita Criativa, ministrado por Marcelo Spalding

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita e participação.Volte outra vez, estarei esperando! Esse espaço é para a sua participação respeitosa e aberta.
Para publicar o comentário, escolha uma identidade (ID) entre as opções que aparecem. Caso tenha conta no google(gmail), escolha a primeira opção ou então escolha ;Nome/ URL;, basta preencher o nome, caso não possua nenhum endereço de blog próprio(URL)