14 novembro 2011

Dia Nacional da Alfabetização

Cartum de Silvano Mello, P/ Dia da Alfabetização
Ler e escrever é muito mais que decifrar letras e palavras. É compreender o que está nas suas entrelinhas. Como uma criança aprende a ler? Qual o melhor método? São tantos que foram sendo adotados ao longo do tempo, ora prestigiados, ora menosprezados. Montessori, Vigotsky, Piaget, Emília Ferreiro, Paulo Freire e outros tantos se dedicaram a pesquisar os mistérios que envolvem a construção da leitura e escrita. Meu pai nunca ouviu falar em nenhum deles, mas foi com sua ajuda que eu comecei a ler antes de ir para a escola. Ironia: meu pai, em oito anos de  escola, nunca aprendeu a ler formalmente, embora, fosse muito bom na leitura de mundo. Ao ver esse cartum de Silvano Mello, feito para a ANJ, especialmente para ilustrar o Dia da Alfabetização, emocionada, lembrei dele  (ele partiu há poucos dias, numa viagem sem volta) , que me trazia jornais doados por um amigo e nas suas manchetes eu aprendi a ler. Depois  foram pilhas e pilhas de gibis. Lembro que devorava as revistinhas, me deliciando com os safados Irmãos Metralha, o desastrado Pato Donald, o sovina Tio Patinhas e sua preciosa moeda número 1, Pateta, Mickey toda a turma Disney. Se alguém me perguntar qual foi o método de alfabetização através do qual me inseri no mundo das letras, não saberei dizer. Mas com certeza, foi vendo situações contextualizadas e histórias. E ler foi se tornando um dos meus maiores prazeres. No dia em que me despedi de meu pai, já sem vida terrena, eu lhe prestei uma homenagem que dizia:
"Pai, o senhor sempre gostou de fazer discursos quando tinha a família reunida. Mas hoje é o meu dia de falar. Não quero discursar, mas só te agradecer. Primeiro pelo meu bem maior: a minha vida, a de teus 8 filhos, 17 netos e 9 bisnetos. Segundo, quero te agradecer pela herança que nos deixou, que vamos guardar: teu exemplo de amor á família, ao trabalho e os valores que nos passou e que nenhum dinheiro pode comprar. Obrigado, pai, por ter se preocupado com cada um de nós até nos momentos finais de teu sofrimento, em que mesmo com o coração quase parando, achou força para deixar suas recomendações a seus filhos, netos e bisnetos. Obrigado pela dedicação  com mãe que sofre de DA, pelos cuidados, pelas noites mal dormidas. Vai em paz, descansa, que nós seguiremos com o senhor na lembrança e no coração. Até um dia, pai!"
Meu pai, mesmo analfabeto, de certa forma sabia ler, porque tinha a sensibilidade de perceber o que  acontecia ao seu redor.  Por isso no Dia Nacional da Alfabetização, quis compartilhar  minha história e provocar uma reflexão sobre as necessidades que envolvem o ler e escrever, além dos saberes científicos.

5 comentários:

  1. Marli, Esteja bem.

    Quero dizer da grandeza do texto que escreveu nesta postagem. Através dessa mensagem pessoal vemos que a questão da alfabetização também passa pelo contexto de mundo que temos antes de aprender ler e escrever, e que essa reflexão se faz necessária entre os educadores modernos.
    Bela homenagem prestada ao seu pai.
    Abraços,

    Aureliano

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  2. Querida Marli!

    Que Deus te dê forças para superar a saudade do seu querido pai e também consolar sua mãe. Ainda bem que ela tem você!

    Tenha certeza que tudo ficará bem novamente. Bjs,

    Josete

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  3. Aureliano e Josete!

    Obrigada pelas palavras gentis e solidárias. Saudade não tem cura, mas ao mesmo tempo traz as boas lembranças. Quanto à questão da alfabetização, é um processo tão subjetivo e individual! Precisamos sempre considerar o cotidiano da criança. Voltem sempre, meus queridos!

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  4. Marli que lindas lembranças vc tem de seu querido pai. Um homem sábio, com certeza!

    Fique com Deus....

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  5. Ju!

    Saudade dele! Muita saudade! BJ!

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