Quando o genial Luís Fernando Veríssimo escreveu essa crônica abaixo, ainda não se falava em notebook, celular, ipad, tablets, etc, etc. No entanto, o cronista já tinha uma previsão do que viria a acontecer. Hoje, 2012, o mundo não acabou como prenunciado para o ano 2000. Mas a tecnologia tomou conta de nossas vidas e consequentemente das escolas. Se bem que, as escolas estão muito atrasadas se comparadas com o cotidiano dos estudantes fora dela.
Penso que uma reflexão partindo dessa crônica é bem oportuna nos dias em que estamos vivendo, com tanta polêmica levantada sobre o uso de recursos tecnológicos nas escolas. Talvez muitos professores ainda estejam vendo a máquina como uma concorrente, uma ameaça, quando na verdade ela é um recurso para potencializar a aprendizagem. No meu ponto de vista, cada vez mais, o educador é imprescindível no processo educativo, não apenas pela questão afetiva, que interfere , mas também para mediar , instigar, direcionar a busca e construção do conhecimento.
Com o acesso fácil a essa overdose de informação, ficou mais difícil selecionar e aprofundar o que é mais significativo. Aí entra o educador, precisando de flexibilidade e firmeza ao mesmo tempo. Deixar o educando andar com as próprias pernas, mas ficar à sua sombra, vigilante.
A ideia de tecnologia como algo frio e impessoal me parece algo do passado, depois da web interativa, que conecta pessoas, que permite a troca , a colaboração, a aproximação. Tecnologia também serve para humanizar.
A ideia de tecnologia como algo frio e impessoal me parece algo do passado, depois da web interativa, que conecta pessoas, que permite a troca , a colaboração, a aproximação. Tecnologia também serve para humanizar.
O que vocês pensam a respeito?
RETROCESSO
O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não havia
uma professora-robô, mas duas. A única diferença entre as duas era que uma era feita totalmente de
plástico e fibra de vidro — fora, claro, a tela do seu visor e seus componentes eletrônicos —, e a
outra era acolchoada. Uma falava com as crianças com sua voz metálica e mostrava figuras,
números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto. Uma comandava a sala,
tinha resposta para tudo e centralizava toda a atenção dos alunos, que pareciam conviver muito bem
com a sua presença dinâmica, a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma
experiência errada.
O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador
tivesse substituído o professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A
máquina falava com clareza e estava programada de acordo com métodos pedagógicos
cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam qualquer coisa as crianças sabiam
exatamente que botões apertar para que a professora-robô repetisse a lição ou, em rápidos
segundos, a reformulasse, para melhor compreensão. (As crianças do futuro já nascerão sabendo
que botões apertar.)
— Fantástico! — comentou o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, sorrindo com satisfação.
Foi quando uma das crianças, errando o botão, prendeu o dedo no teclado da professora-robô. Nada
grave. O teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualquer risco aos dedos
infantis. Mesmo assim, doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus
sensores, a professora-robô desligou-se automaticamente. Exatamente ao mesmo tempo, o outro
robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a criança que chorava e a pegou no colo com os
braços de imitação, embalando-a no seu colo acolchoado e dizendo palavras de carinho e conforto
numa voz parecida com a do outro robô, só que bem menos metálica. Passada a crise, a criança,
consolada e restabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda
professora-robô voltou para o seu canto e se desligou enquanto a primeira voltou à vida e à aula.
— Fantástico! — repetiu o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, ainda mais satisfeito.
— Mas me diga uma coisa... — começou a dizer o visitante.
— Sim?
— Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais, digamos, maternal do trabalho
pedagógico, enquanto o primeiro faz a parte técnica.
— Exatamente.
— Não seria mais prático — sugeriu o visitante — reunir as duas funções num mesmo robô?
Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com condescendência — Isso — explicou — seria um retrocesso.
— Por quê?
— Estaríamos de volta ao ser humano.
E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado. Decididamente, o visitante não entendia de futuro.
Luís Fernando Veríssimo. In Nova Escola. São Paulo. Abril, out. 1990. p. 19.
Olá Marli!
ResponderExcluirQue belo texto, pela postagem, bela lembrança.
Concordo em número, gênero e grau.
O professor tem que acompanhar a evolução, a superação de modelos tradicionais demais.
Tem professor que tem receio do computador...Pensa que sabe menos... que o aparelho....aiaiaiaiai
Não podemos parar no tempo... a vida não para...se renova e se constrói o tempo todo.
Bjos, Rosangela