03 julho 2008

Do Jabor, sobre o Rio Grande do Sul

Publico aqui, do Jabor, um texto do qual gostei muito. Não só por eu ser gaúcha e me orgulhar do meu estado, da nossa gente, da nossa história, da nossa cultura, mas também porque acho importante reforçar a importância de termos referências, valores pra cultivar, raízes pra manter. Só acho que nós, gaúchos, precisamos resgatar algumas coisas que se perderam, apesar de que ainda somos vistos como um povo que pode fazer a diferença, como diz no texto. É triste ver nosso estado nessa situação financeiramente calamitosa e nos últimos tempos também com suspeitas de envolvimentos em tramóias e corrupções por parte de alguns que não sabem honrar nossas tradições. Mas o melhor é destacar as coisas boas.

"Pois é.
O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e exclamam 'que horror'.
Sabem do roubo do político e falam 'que vergonha'.
Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.
Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem 'que baixaria'.
Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E pronto!
Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.
Do ressentimento passivo à participação ativa'.
Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.
Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.
Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso. Como seria o hino?
Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!
'Como a aurora precursora /
do farol da divindade, /
foi o vinte de setembro /
o precursor da liberdade '.
Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.
Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista, não estou acostumado.
Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.
Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é...
Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão em participação ativa?
De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.
Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção.
São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.
Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que ainda têm essa 'liga'. A mesma que eu vi em Porto Alegre.
Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo.
Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda:
'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'"

Arnaldo Jabor

3 comentários:

  1. Pois é, digo eu!Por duas vezes tive a grata oportunidade de viajar ao Rio Grande do Sul, e constatar de fato que os gaúchos posssuem um espírito de comunidade que não vemos por aqui.
    Minha querida São Paulo, terra que recebeu e recebe gente de todos os cantos deste país e até do mundo, mas que está desprovida de tal espírito.Agregadora de tantas culturas mas vazia em si mesma.Podem dar a justificativa que quiserem mas é triste e verídica as observações colocadas por JABOR.
    Tomara nos inspiremos continuamente no exemplo dos gaúchos, tchê!!

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  2. Claudia, se te mcoisa do qual nos orgulhamos é das nossas tradições, do nosso hino que sempre cantamos com emoção de cor e salteado. Beijo!

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  3. Anônimo5:15 PM

    A Cada segundo que passa eu me orgulho mais de ser gaucho!
    Povo sem preconceitos, diferenças e rivalidades, Povo que tem o orgulho de ser gaucho.

    "Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra".

    Quando olho na tv me apavoro com as tragedias, terrorismo, corrupção que ocorrem no país, não que aqui nao tenha, mas nos outros estados eh muito "escancarado".

    "povo que não, tem virtude acaba por ser escravo".

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